Um olhar sobre a Doca de Alcântara numa tarde de Julho de 2013, dia 19. Espreitar o rio e o porto a partir do velho Jardim 9 de Abril, mesmo ao lado do Museu de Arte Antiga e das Escadinha da Rocha do Conde de Óbidos, referência de tantos olhares de tantos anos. Hoje a paisagem está mais despida: os cais dentro da Doca esvaziaram-se de navios e de movimento. Os estivadores, os guardas, os carregadores, os funcionários do porto, quase desapareceram todos. Tal como os navios que são menos, maiores e deram lugar aos brinquedos dos novos náutas, de recreio, que pouco se trabalha já com navios de comércio ou de pesca e muito menos dentro da Doca de Alcântara, a doca do Espanhol por via do empreiteiro galego que teve a adjudicação da finalização dos trabalhos de construção desta magnífica doca do Porto de Lisboa, no primeiro quartel do século XX. Já não se roubam bananas nem vacas dos navios da carreira das Ilhas, como antes acontecia, nem se contrabandeia bacalhau em caixas da Madeira, eram dez caixas para o contrabandista tripulante e uma para o guarda fiscal, que o Estado pagava mal e havia família em casa para alimentar. Hoje o grande ladrão dá pelo nome de "mercados", que manda no fisco que faz continuar a tocar a banda e assim eles sempre levam tudo e não deixam nada.
A paisagem continua bonita vista das Janelas Verdes. Já não se vê o paquete da Mala Real a meio do rio nem o couraçado inglês descritos ambos nos Maias, mas a luz e a pacatez do Tejo devem ser as mesmas.
Os caixotes mágicos mudaram tudo, quase automatizaram as operações de carga e descarga, uniformizaram os portos e os navios, e o mundo da doca ficou cercado de portões e cercas...
Sobrevivem as barcas da água do Talaminho, quase sempre paradas que hoje não está na moda meter-se água...
E na entrada da Doca de Alcântara, ainda lá está o velho estaleiro naval do Porto de Lisboa, as duas docas secas grandes inauguradas em 1899. Também o estaleiro já conheceu melhores dias, com a CUF, com a Lisnave, mas tudo isso é passado há muito. Hoje o sítio chama-se Navalrocha e até está bonito com o FUNCHAL a revisitar o seu poiso de limpeza das obras vivas desde 1962, como me disse um tripulante quando naveguei neste paquete pela primeira vez há 50 anos: "Todos os seis meses vamos à doca para pintar o fundo, ali..." Outros tempos.
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