A notícia do EXPRESSO de 27-02-2015 dedicada aos infortunios mais recentes do FUNCHAL,
que reproduzimos com a devida vénia
O Paquete FUNCHAL teve direito a uma notícia de meia página na edição de 27 de Fevereiro do suplemento Economia do Jornal Expresso, infelizmente pelas razões tristes que divulgámos há dias: a retirada de serviço do navio e a sua imobilização em Lisboa.
A notícia preconiza que o FUNCHAL vai ficar parado durante todo o ano de 2015 mas que o armador Rui Alegre espera que volte ao mar em 2016.
Quanto mais tempo o FUNCHAL estiver parado mais prejuízos gera e menores as possibilidades de que volte a ser bem sucedido. Infelizmente o FUNCHAL só ganhou dinheiro na fase em que esteve ligado ao anterior armador George Potamianos, enquanto foi português navegou sempre com esteira vermelha. Na fase inicial da Empresa Insulana de Navegação, de Novembro de 1961 até Julho de 1973, a sua exploração comercial revelou-se uma dor de cabeça permanente para a Insulana e em especial para o seu "Pai", o Senhor Vasco Bensaude, porque o navio era obrigado a manter-se na carreira das Ilhas, com grandes variantes sazonais e preços administrativos (isto é fixados pela Junta Nacional da Marinha Mercante) que dificilmente podiam garantir receitas que equilibrassem os custos, e a promessa de um subsídio estatal a atribuir em caso de necessidade nunca se concretizou. O problema inicial do FUNCHAL era ser "bom demais para uma carreira pobre".
Depois, na fase de cruzeiros, em especial depois de 1975, até 1985, o navio angariava divisas nos seus fretamentos à Suécia e ao Brasil, mas tudo indica que perdia dinheiro, devido ao tipo de enquadramento legal em que operava no registo convencional português, com tripulantes a mais e custos legais e fiscais desajustados.
De tal forma era assim que os fracos resultados iniciais nos "Cruzeiros Insulana" em 1973 ajudaram a reprimir o pouco entusiasmo que a Companhia Nacional tinha para reconverter o PRÍNCIPE PERFEITO para cruzeiros numa operação semelhante à do FUNCHAL, mas mais cara não fosse o PRÍNCIPE o dobro do tamanho e capacidade do navio da Insulana.
Claro que George P. Potamianos, com uma escola de várias gerações a operar navios na Grécia meteu o FUNCHAL a dar dinheiro logo em 1986, de tal forma que em um ano de operação recuperou o investimento com a compra, e durante mais de duas décadas o nosso FUNCHAL fartou-se de facturar.
A maré começou a mudar por volta de 2005. Com a concorrência feroz das grandes multinacionais dos cruzeiros, a pressão reguladora da IMO com sucessivas actualizações da convenção SOLAS e a degradação da conjuntura económica na Europa, o FUNCHAL chegou a estar a um passo da sucata em 2012.
Felizmente foi decidido recuperar o navio, mas os cruzeiros efectuados em 2013 e 2014 e as possíveis perspectivas para 2015 levaram a PORTUSCALE CRUISES a desistir da operação directa do navio nos moldes em que vinha actuando desde Agosto de 2013. Esperemos que a boa estrela que sempre guiou o FUNCHAL ao longo destes 54 anos, continue a inspirar alguém que promova a utilização do navio com sucesso.
O FUNCHAL é um navio de sonho, como o comprovam milhares de passageiros e amigos de muitos anos, como não há outro igual e seria muito triste deixar perder este navio. Até porque o FUNCHAL como derradeiro paquete português tradicional é um autêntico símbolo, sempre que olho para o FUNCHAL, vejo o navio e todos os outros que tivemos, alguns muito superiores ao paquetezinho da Insulana, mas que não fomos capazes de conservar: nessa perspectiva o FUNCHAL sobrevivente é uma fonte de inspiração para um mar de oportunidades e de saber fazer que desdenhámos e perdemos em 40 anos de DESMARITIMIZAÇÃO (mais quanto aos paquetes cuja frota começou a ser desbaratada em 1970, porque dava menos trabalho mandar para a sucata ou vender a troco de nada navios cheios de vida nos seus cascos) e ao mesmo tempo um certificado das nossas limitações actuais. Mas não é para já o fim do FUNCHAL e espero que a actual empresa armadora consiga redesenhar com sucesso e equilíbrio um novo futuro para o nosso FUNCHAL.
Um pequeno comentário para a notícia do Expresso, assinada pela jornalista Conceição Antunes, que fez mal o trabalho de casa e incluiu na peça algumas afirmações que não correspondem à verdade: é que ao contrário do que está escrito no jornal, o FUNCHAL não fez cruzeiro nenhum à África Ocidental de expressão portuguesa, como chegou a estar planeado para Novembro e Dezembro de 2014, o cruzeiro foi cancelado por falta de passageiros e pelo aumento de custos operacionais persectivados com a explosão do surto de ébola precisamente na altura em que se procurava vender a viagem. Também não é verdade que o FUNCHAL tenha passado por Maraquexe no recente cruzeiro de Fim do Ano à Madeira, de 28 de Dezembro a 2 de Janeiro - que até ver terá sido a última viagem do navio - este cruzeiro incluiu escalas no Porto Santo e no Funchal. De facto esteve em águas de Marrocos no cruzeiro de Fim de Ano anterior em 2013/14, mas no porto de Safi, o FUNCHAL nunca foi nem poderia ir a Marraquexe porque esta bela cidade marroquina é uma cidade interior, não é possível levar lá navios, apenas os seus passageiros que de Casablanca ou Safi, queiram fazer algumas horas em autocarros nas estradas marroquinas que lembram as nossas antigas. Quando leio estas trapalhadas num jornal de referência como o Expresso gosta de se ver, penso que o mesmo método simples e inocente poderá ser aplicado a muitos outros conteúdos que quem não domina aceita como bons. Não se pode confiar na sabedoria alheia.
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