Ao amanhecer de 16 de Abril de 1966 o paquete italiano MICHELANGELO entrou em Nova Iorque procedente do Mediterrâneo com a bandeira a meia haste e inúmeros vestígios de avarias ocasionadas por um golpe de mar extremamente violento que atingiu o navio na manhã de 12 de Abril, quando este navegava a sul dos Açores, rumo a Nova Iorque com 745 passageiros e 710 tripulantes a bordo.
Inaugurado um ano antes, em Abril de 1965, o MICHELANGELO e o seu irmão gémeo RAFFAELLO eram o orgulho da Marinha Mercante italiana, com 45 900 toneladas de arqueação bruta, capacidade para 1771 passageiros e 27 nós de velocidade de serviço.
O Inverno de 1965/66 foi particularmente rigoroso no Atlântico Norte, cujos meses mais difíceis são habitualmente Março e Abril. O MICHELANGELO fazia a viagem 15, iniciada em Génova a 7 de Abril, com um dia de atraso devido ao mau tempo verificado durante a viagem anterior e fez as escalas habituais em Cannes 7-04 das 22h40 às 23h50) e Gibraltar (9-04 das 06h50 às 08h10), fazendo-se ao Atlântico, seguindo uma rota por sul da ilha de Santa Maria, para tentar fugir aos efeitos de um violentíssimo temporal. Durante a noite de 11 para 12 de Abril, vários navios nas proximidades do MICHELANGELO emitiram pedidos de socorro, tendo a Guarda Costeiro dos EUA pedido o auxílio do paquete italiano que foi desviado para norte da sua rota para tentar socorrer o navio libanês ROKOS, sendo depois anulado este pedido. Com mar de força 10, pelas 10h20, a proa do MICHELANGELO foi atingida por uma onde gigante que destruiu parcialmente a zona de proa e o casario do navio junto à ponte de comando que ficou alagada, com diversas janelas destruídas, etc...
Por baixo da ponte, as suites de luxo foram destruídas, pois o alumínio das anteparas não resistiu à força do mar. Em resultado, para além da destruição material, morreram 2 passageiros, 1 tripulante e registaram-se ainda 12 feridos graves.
O MICHELANGELO foi reparado provisoriamente em Nova Iorque de onde largou a 20 de Abril, sendo depois reparado em Génova, com importante reforço estrutural e a substituição de alumínio por aço na zona de vante do casario, durante a reparação de Inverno no início de 1967, tendo-se seguido intervenção semelhante no RAFFAELLO.
Estas fotografias foram feitas pelo meu Amigo Bill Miller, de Nova Iorque, que se recorda da situação do MICHELANGELO nos termos seguintes: "memories of a Saturday in April 1966 when Italian Line's less-than-a-year-old MICHELANGELO arrived at Pier 90 with her forward superstructure gashed and mangled after sailing through an unusually ferocious Atlantic storm. We stared in curiosity - she looked "badly wounded" and, like bandages, those fore decks were draped in canvas tarps. Word along the waterfront was that the giant, 902-ft long liner would be moved over to Hoboken, to the Bethlehem Steel shipyard, for repairs. Instead, the shipyard's work boats, including a floating crane with tug, made temporary repairs at Pier 90. The Michelangelo later returned to Italy, to her builders at Genoa, for full repairs that included reinforcement of the 45,000-ton liner's superstructure. Similar changes were made to her twin sister Raffaello."
O MICHELANGELO e o seu gémeo RAFFAELLO só navegaram 10 anos, sendo retirados da carreira do Atlântico Norte e imobilizados em 1975 acabando vendidos ao Irão dois anos mais tarde, onde acabaram por ser destruídos. O MICHELANGELO foi desmantelado no Paquistão enquanto o RAFFAELLO está afundado no Golfo Pérsico, vitima da guerra entre o Irão e o Iraque. Mal empregados navios...
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