O navio-escola português SAGRES tem uma enorme importância no momento actual em que tanto se fala de mar e tão pouco de navios.
A nossa SAGRES, para além da sua beleza indescritível, é um símbolo vivo do que há de melhor entre nós, das tradições - o Infante Dom Henrique à proa - à prática de mar - o navio-escola - e à afirmação de Portugal como nação marítima - a SAGRES tem sido um dos grandes embaixadores de Portugal por esse mundo.
A minha ligação à SAGRES já tem muitos anos, lembro-me de a ver passar pelo Funchal em Junho de 1962 na viagem do Brasil para Lisboa, quando foi comprada pela nossa Marinha.
Em 1972 andava eu no Liceu D. João de Castro, um dia reparei num cartaz com a SAGRES a anunciar um curso de marinharia. Tratava-se de uma iniciativa da Mocidade Portuguesa e não resisti ao encanto da SAGRES: fui ao palácio da Independência inscrever-me nessa organização de juventude do Estado Novo e passei a ir aos fins de semana para o Alfeite, embarcava na vedeta na doca da Marinha e tive aulas teórica e práticas a bordo do NRP SAGRES. Tudo à borla, ainda não se tinham inventado taxas moderadoras nem o conceito de Desmaritimização.
Desse tempo ficou a ligação ao navio e de certa forma à Marinha, então com muito mais unidades navais do que hoje. Lembro-me de ver atracado próximo da SAGRES o navio-hidrográfico PEDRO NUNES, antigo Aviso de segunda classe construído na Ribeira das Naus, e nunca mais esqueci a beleza desse navio, cheio de amarelos a brilhar, um museu que depois se perdeu, o casco foi transformado em batelão. Lembro-me também da PÊRO ESCOBAR, então em modernização, dos submarinos, fragatas e corvetas novas...
Passaram muitos anos, volta e meia reencontro a SAGRES, como aconteceu ontem, no Tejo. Em 1972 eu tinha 15 anos e a SAGRES 35. Passaram entretanto 42 anos, que se notam de cada vez que o LMC se vê ao espelho, mas no caso da barca SAGRES, é o contrário o navio parece cada vez melhor, e ontem não cabia em si de vaidosa a estrear uma andaina nova de panos latinos. Ver a SAGRES a navegar no Tejo com o pano todo envergado como ontem aconteceu comove-me e faz-me sentir orgulho neste navio, em ser português e sonhar o mar. Obrigado SAGRES.
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