Interessante imagem da Estação Fluvial de Belém com o cacilheiro UM DE ABRIL atracado. Imagem de Mário Novais, actualmente pertença da Biblioteca da Gulbenkian.
Esta fotografia pode ser datada com segurança como tendo sido registada no final da década de 1950. Ainda não se vê o Padrão dos Descobrimentos que depois de ter sido construído em 1940 para a EXPO de Belém com materiais perecíveis, voltou a ser erigido em 1960, desta vez com materiais duradouros. Por sua vez o cacilheiro atracado na secção montante da ponte-cais de Belém é o UM DE ABRIL, da Sociedade Cooperativa dos Catraeiros do Porto de Lisboa, sendo o nome deste pequeno navio de passageiros o da data "oficial" da fundação da Cooperativa dos Catraeiros, creio que em 1921. Digo "Oficial" por que se trata de um embuste anedótico digno da mentalidade do Estado Novo. A Cooperativa havia sido fundada efectivamente a 1 de Maio, dia dos trabalhadores, data com poucas simpatias no tempo do Salazarismo. Assim, em dada altura a direcção da Cooperativa dos Catraeiros decidiu mudar a data oficial da sua fundação, antecipando um mês para 1 de Abril, data do "Dia das Mentiras". Isto para não parecer mal perante as autoridades. E assim ficou.
Uma das actividades da Cooperativa era o serviço de transporte de passageiros de Belém para o Porto Brandão com lanchas. Em 1951 decidiram construir um cacilheiro já com maiores dimensões e surgiu assim o UM DE ABRIL, com as suas linhas de pequeno paquete. Foi construído no estaleiro de Porto Brandão e em 1959 seria vendido à Sociedade Marítima de Transportes, então o maior operador de serviços fluviais de passageiros e viaturas a operar no Tejo. Passou a chamar-se DARDO e ainda chegou a integrar a frota da Transtejo em 1975, tendo sido desmantelado em Alhos Vedros em 1980.
Tenho muitas destas histórias de Cacilheiros no meu novo livro DE LISBOA À OUTRA BANDA, onde poderão ler detalhadamente a história e características do UM DE ABRIL / DARDO.
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