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Quadro do Paquete PÁTRIA de Ayres de Carvalho

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O quadro de Ayres de Carvalho do antigo Paquete PÁTRIA que fotografei no Alfeite


Uma visita ao palácio do Alfeite onde está instalado o Comando Naval da Marinha Portuguesa, organizado pela Confraria Marítima de Portugal, proporcionou uma grata surpresa extra programa: na escadaria principal do palácio deparei com o magnífico quadro que Mestre Armindo Ayres de Carvalho (1911-1997) concebeu e pintou em 1947, destinado à decoração do Paquete PÁTRIA, então em construção em Clydebank, para a Companhia Colonial de Navegação.
Átrio da Primeira Classe do Paquete Pátria, com o quadro de Ayres de Carvalho visível na antepara adjacente à escadaria de acesso aos salões do navio

Em Março de 1946 a Companhia Colonial de Navegação encomendou ao estaleiro John Brown de Clydebank, Escócia, a construção dos paquetes PÁTRIA e IMPÉRIO, ambos de 13.000 TAB, e destinados à carreira de Lisboa à África Oriental, de acordo com as disposições definidas no Despacho 100 de 10 de Agosto de 1945, do Ministro da Marinha Américo Thomaz. 

Empresa muito progressiva e dinâmica, a Colonial resolveu promover um concurso entre os melhores artistas plásticos da época, para dois grandes quadros destinados ao PÁTRIA e ao IMPÉRIO, cujos temas eram precisamente interpretações artísticas associadas aos nomes dos dois paquetes. 
Para apreciar os esboços propostos pelos artistas foi constituída uma comissão, presidida pelo Presidente da Junta Nacional da Marinha Mercante, Cte. Pereira Viana, de que faziam parte os artistas Armando de Lucena, Diogo de Macedo e Raul Lino e ainda o Dr. Raul de Sampaio Vieira, administrador da CCN. Em Março de 1947 esta comissão apreciou diversos trabalhos de Ayres de Carvalho, José Rebocho, Martins Barata, Abel Manta e António Lino, sendo escolhido o projecto de Ayres de Carvalho, que foi concluído em 1947 a tempo de seguir para a Escócia e ser instalado a bordo do navio. 

Anúncio de viagem do PÁTRIA ao Brasil em 1948 (viagem n.º 3)

O quadro, de grandes dimensões, destacava-se a bordo como a obra de arte mais evidente, colocado na antepara adjacente à escadaria principal do paquete (1.ª classe), ligando o átrio do Comissariado ao pavimento dos salões principais, podendo ver-se na fotografia que apresentamos.
O PÁTRIA foi concluído em Dezembro de 1947 e entregue à CCN - foi o primeiro paquete do Despacho 100 a entrar ao serviço, e o primeiro navio de passageiros português com mais de 10.000 toneladas de arqueação bruta, e o primeiro equipado com turbinas a vapor. Entrou em Lisboa pela primeira vez, vindo do estaleiro, a 1 de Janeiro de 1948 e a 26 desse mesmo mês, largou de Lisboa na viagem inaugural a Angola e Moçambique, com escalas no Funchal, São Tomé, Luanda, Lobito, Moçâmedes, Cidade do Cabo, Lourenço Marques, Beira e Moçambique. Navegou durante os 25 anos seguintes, efectuando 140 viagens, na sua maioria a Moçambique, mas com algumas viagens com destinos diferentes: Brasil, América Central, Paquistão, serviu como transporte de tropas e fez alguns cruzeiros à Madeira. Terminou a última viagem comercial na carreira de África em Maio de 1973 e foi vendido para desmantelar na ilha Formosa (China), onde chegou a 1 de Agosto de 1973 a Kaohsiung após o que foi demolido em 1974.
Anúncio de viagem do PÁTRIA em 1951

O quadro de Ayres de Carvalho foi retirado de bordo do paquete antes de este deixar Lisboa a caminho da Formosa, e com a fusão da Colonial e Insulana, em 1974, passou a ser património da CTM - Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos. Quando a CTM foi liquidada em 1985, grande parte das obras de arte retiradas dos paquetes da CCN foram dadas à guarda do Museu de Marinha de Lisboa, que posteriormente as adquiriu à Comissão Liquidatária, e assim o antigo quadro do velho PÁTRIA, em que naveguei em 1972, sobreviveu à Desmaritimização, ao abate cego dos navios e à destruição da Marinha Mercante Nacional, e pode ser apreciado em lugar nobre no Comando Naval da BNL, ao Alfeite. Caso para dizer: Viva a Marinha!.

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