A emigração sempre foi uma constante da sociedade portuguesa, corolário de um País tradicionalmente injusto em que a pobreza resultou de múltiplos factores económicos e sociais, deixando como aparente saída a fuga para a frente, que em 1950 se traduzia em arranjar passagem para o Brasil e partir, quantas vezes rumo ao desconhecido e a diferentes formas de pobreza e discriminação.
Acto pleno de audácia e de coragem, embarcar rumo ao Novo Mundo, por volta de 1950, alimentava um fluxo de milhares de passageiros, cerca de 15 mil, que levavam diversos armadores estrangeiros e desviarem os seus navios para Lisboa, onde enchiam as cobertas, sucedâneas das velhas formas de "steerage-class", mas pouco melhores: camaratas, que podiam levar até 60 pessoas nalguns navios, separadas por sexos, claro está.
Antes de deixarem a terra firme que lhes negava condições de uma vida digna, os emigrantes portugueses eram sujeitos a um último vexame: a inspecção da Guarda-Fiscal, como regista a imagem, num Portugal demasiado cinzento para os dias de hoje.
Embora muitas injustiças se não tenham desvanecido entretanto, o mundo mudou para muito melhor. Oxalá saibamos conservar as liberdades fundamentais, que a liberdade de ver navios à vontade já conheceu melhores tempos. Fotografia da colecção Luís Miguel Correia registada em 1950 por N. de Gröer. O cais é o da Gare Marítima de Alcântara, o navio, o paquete GIOVANNA C, um dos primeiros da companhia italiana Costa.
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